“Buscai o Senhor, já que Ele se deixa encontrar; invocai-O, já que está perto.” (Is 55.6) Iniciando o Tempo da Quaresma, juntamente com a imposição das Cinzas em nossa fronte, ouvimos a seguinte oração ‘tu és pó e ao pó voltarás” ou “convertei-vos e crede no evangelho”. Nossa resposta é “amém”, que significa ‘assim seja, eu concordo, eu aceito’.

Toda a Liturgia tem uma finalidade e uma explicação, pois é inspirada pelo Espírito Santo. A imposição das cinzas recorda que nossa vida é finita, efêmera e que todos, exatamente todos, um dia ou outro morreremos. Receber as Cinzas abençoadas, o que as torna um sacramental, significa para o cristão um desejo de renovação pessoal, um recomeço a partir de uma avaliação interior que leve ao caminho de uma vida nova, alicerçada em Cristo Jesus e seus ensinamentos.

A Quaresma é conhecida amplamente como o ‘tempo propício para a conversão’ e as cinzas nos predispõe ao arrependimento dos pecados, lembrando-nos da necessidade contínua de nos voltarmos a Jesus e seus ensinamentos. Somos humanos e frágeis, orgulhosos e pecadores, porém, a Palavra nos exorta de forma literal: “Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.” (ICor 10,12). Esse cuidado para não cair exige um processo gradual, intenso, de vigilância, oração e vida sacramental, numa abertura à ação de Deus, que pode renovar e realizar uma obra nova em nós a cada dia, para que, caídos, possamos nos levantar com o auxílio Dele, o Senhor que tudo pode.

Se olharmos para nosso dia a dia, temos uma rotina que cumprimos como que automaticamente, dormimos, acordamos, alimentamos nosso corpo, fazemos nossa higiene, trabalhamos, assim como tudo que nasce morre, a vida é um ciclo que chega ao seu fim. A nossa alegria é saber que fomos criados por Deus para vivermos neste mundo por um tempo determinado, pois o nosso destino é o Céu, junto do Pai, face a face com Cristo, contemplando Maria com a graça do Espírito Santo. O nosso caminhar aqui na terra é uma passagem, o verdadeiro paraíso não é aqui, o nosso destino é o Paraíso Celeste. Temos a vida em nós, pela graça de Deus, mas a vida não é nossa de fato. Somos responsáveis totalmente pelo modo como vivemos, com o que fazemos com essa Graça recebida, pois, ou a aperfeiçoamos e preparamos o nosso caminho com retidão caso almejemos o Paraíso, ou vivemos de qualquer jeito, sem nos importarmos para onde iremos depois daqui. Não devemos temer a morte aqui neste mundo, devemos sim temer a morte eterna que significa passar a eternidade sem Deus.

Temos um caminho, um norte deixado pelo próprio Cristo que é o Espírito Santo, nosso Advogado e Instrutor, que sempre está pronto a nos ajudar. Sob a Luz do Espírito Santo, possamos viver a Quaresma num verdadeiro espírito de humildade, reconhecendo-nos pecadores, pois realmente o somos, todos; com o coração sincero, peçamos a graça do arrependimento por termos ofendido a Cristo com o pecado cometido e ao irmão; sintamos no coração a necessidade premente de buscar o Sacramento da Reconciliação e de fazermos o firme propósito de não pecar mais.

Também somos chamados a uma maior participação na vida paroquial e comunitária, nas celebrações que envolvem todo o período Quaresmal: os encontros em comunidades, as Vias Sacras, Procissões Penitenciais e a cumprir os preceitos quaresmais do Jejum e abstinência de carne na Quarta-Feira de cinzas e na Sexta-Feira Santa. Todas essas ações devem ser voltadas à busca do amor a Deus e ao conhecimento mais íntimo de Sua vontade e assim, poderão ser transformadas em atitudes mais fraternas em relação aos irmãos mais necessitados, pois quando nos aproximamos mais de Deus, sentimos brotar em nós o desejo de ajudar o próximo, onde Deus também faz morada. Busquemos o Senhor para não corrermos o risco de que Ele mesmo nos diga: “nunca vos conheci” (Mt 7,23).

+Dom Carlos José Bispo da Diocese de Apucarana – Paraná